Farmácia do Estado está sem medicações para pessoas com diabetes e sem insumos, como tiras para aferição da glicemia e agulhas
Larissa Vila Nova chega a gastar R$ 600 por mês para adquirir medicamentos para tratar a diabetes
Fernando da Hora/JC Imagem
Cinthya Leite
Em Pernambuco, pessoas que convivem com diabetes e solicitam ao Estado o tratamento para manter a doença sob controle denunciam a falta de regularidade no fornecimento do kit completo para tratamento da enfermidade que, sem terapêutica e monitoramento adequados, abre portas para um leque de complicações, como cegueira, insuficiência renal, amputações, danos em nervos e problemas cardiovasculares. Na Farmácia de Pernambuco, na Boa Vista, Centro do Recife, falta um arsenal fundamental para deter os altos e baixos da glicose: as prateleiras estão sem três insulinas de ação rápida (usadas antes das refeições ou nas ocasiões em que há aumento da glicemia) e sem insulina de ação prolongada, aplicada uma vez ao dia.
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Além disso, não há insumos para verificar como estão as taxas de glicose e poder aplicar de forma segura as doses de insulina. As tiras para monitorar o açúcar no sangue e as agulhas para aplicar insulinas estão escassas na Farmácia do Estado. “Para se manter saudável, uma pessoa com diabetes precisa controlar as taxas e seguir corretamente o tratamento. Mas há quase dois anos, o fornecimento de insulina é irregular. Quando tem um tipo de medicação na Farmácia do Estado, falta outro”, diz a endocrinologista Elcy Falcão, presidente da comissão científica da Associação Pernambucana do Diabético Jovem.
A médica ressalta que os mais prejudicados são os pacientes com diabete tipo 1 – versão da doença em que pouca ou nenhuma insulina (hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue) é liberada para o corpo. São pessoas dependentes das aplicações diárias da medicação para manter a qualidade de vida. “A insulina de ação prolongada, que dá a base para aplicação das outras, é a que mais falta. Os pacientes fazem queixas à ouvidoria da farmácia e escutam sempre que a situação vai regularizar, mas nada acontece”, acrescenta Elcy.
O microempresário Antônio de Lima Filho, 35 anos, conta que já passou até seis meses sem receber o kit para controlar as taxas da filha, Kaline Gabrielly, 9. “Em 2010, quando foi internada e diagnosticada com diabete, conseguimos a medicação por ordem judicial e, ainda assim, há períodos em que falta. Quando o Estado não fornece, a família ajuda. De janeiro a maio, faltou muita coisa. Felizmente consegui todo o kit no dia 30”, conta Antônio. Diante da irregularidade no fornecimento, não há garantia de que, nos próximos meses, ele consiga retirar os produtos na Farmácia do Estado.
“As insulinas chegam e logo acabam. Preciso especialmente da insulina de ação prolongada. Estou usando agora uma que ganhei de uma pessoa que tinha sobras”, diz a profissional autônoma Ana Lúcia Ramos e Silva, 42 anos, que convive há mais de quatro décadas com a doença. “Se tiver que comprar insulinas, tiras e agulhas, gasto R$ 1,7 mil por mês. Tive que comprar algumas vezes porque não consigo manter as taxas controladas só com a insulina de ação rápida.”
A nutricionista Larissa Vila Nova, 28, também está há mais de seis meses sem receber insulinas necessárias para controlar a doença, com a qual convive há 20 anos. “Desembolso R$ 600 por mês para comprar medicação, agulha e lancetas. Ligo para a Farmácia do Estado e ninguém atende”, conta Larissa, que acompanha as pessoas com diabete e, como paciente, sabe o transtorno que elas enfrentam.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que a compra das insulinas de ação rápida (NovoRapid e Humalog) está em processo de licitação. Já a Apidra (também de ação rápida) tem entrega marcada para terça-feira (12). “Em relação às fitas para controle glicêmico, houve problema no processo licitatório. Um novo já foi aberto.” Questionada sobre o universo de pessoas com diabete no Estado que dependem do governo para o tratamento, a SES não forneceu o número.
No Grande Recife, 7,5% da população adulta vivem com diabete, segundo a vice-presidente da Regional Pernambuco da Sociedade Brasileira de Diabetes, Geísa Macedo. “É um constrangimento saber que não se pode usar um medicamento melhor porque não está disponível no Estado”, lamenta.
FONTE : JC ONLINE
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