domingo, 10 de julho de 2016

SAÚDE : Pacientes com diabetes denunciam falta de insulinas em Pernambuco



Farmácia do Estado está sem medicações para pessoas com diabetes e sem insumos, como tiras para aferição da glicemia e agulhas
Larissa Vila Nova chega a gastar R$ 600 por mês para adquirir medicamentos para tratar a diabetes / Fernando da Hora/JC Imagem
Larissa Vila Nova chega a gastar R$ 600 por mês para adquirir medicamentos para tratar a diabetes
Fernando da Hora/JC Imagem

Cinthya Leite
Em Pernambuco, pessoas que convivem com diabetes e solicitam ao Estado o tratamento para manter a doença sob controle denunciam a falta de regularidade no fornecimento do kit completo para tratamento da enfermidade que, sem terapêutica e monitoramento adequados, abre portas para um leque de complicações, como cegueira, insuficiência renal, amputações, danos em nervos e problemas cardiovasculares. Na Farmácia de Pernambuco, na Boa Vista, Centro do Recife, falta um arsenal fundamental para deter os altos e baixos da glicose: as prateleiras estão sem três insulinas de ação rápida (usadas antes das refeições ou nas ocasiões em que há aumento da glicemia) e sem insulina de ação prolongada, aplicada uma vez ao dia. 
Além disso, não há insumos para verificar como estão as taxas de glicose e poder aplicar de forma segura as doses de insulina. As tiras para monitorar o açúcar no sangue e as agulhas para aplicar insulinas estão escassas na Farmácia do Estado. “Para se manter saudável, uma pessoa com diabetes precisa controlar as taxas e seguir corretamente o tratamento. Mas há quase dois anos, o fornecimento de insulina é irregular. Quando tem um tipo de medicação na Farmácia do Estado, falta outro”, diz a endocrinologista Elcy Falcão, presidente da comissão científica da Associação Pernambucana do Diabético Jovem.
A médica ressalta que os mais prejudicados são os pacientes com diabete tipo 1 – versão da doença em que pouca ou nenhuma insulina (hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue) é liberada para o corpo. São pessoas dependentes das aplicações diárias da medicação para manter a qualidade de vida. “A insulina de ação prolongada, que dá a base para aplicação das outras, é a que mais falta. Os pacientes fazem queixas à ouvidoria da farmácia e escutam sempre que a situação vai regularizar, mas nada acontece”, acrescenta Elcy.
O microempresário Antônio de Lima Filho, 35 anos, conta que já passou até seis meses sem receber o kit para controlar as taxas da filha, Kaline Gabrielly, 9. “Em 2010, quando foi internada e diagnosticada com diabete, conseguimos a medicação por ordem judicial e, ainda assim, há períodos em que falta. Quando o Estado não fornece, a família ajuda. De janeiro a maio, faltou muita coisa. Felizmente consegui todo o kit no dia 30”, conta Antônio. Diante da irregularidade no fornecimento, não há garantia de que, nos próximos meses, ele consiga retirar os produtos na Farmácia do Estado.
“As insulinas chegam e logo acabam. Preciso especialmente da insulina de ação prolongada. Estou usando agora uma que ganhei de uma pessoa que tinha sobras”, diz a profissional autônoma Ana Lúcia Ramos e Silva, 42 anos, que convive há mais de quatro décadas com a doença. “Se tiver que comprar insulinas, tiras e agulhas, gasto R$ 1,7 mil por mês. Tive que comprar algumas vezes porque não consigo manter as taxas controladas só com a insulina de ação rápida.” 
A nutricionista Larissa Vila Nova, 28, também está há mais de seis meses sem receber insulinas necessárias para controlar a doença, com a qual convive há 20 anos. “Desembolso R$ 600 por mês para comprar medicação, agulha e lancetas. Ligo para a Farmácia do Estado e ninguém atende”, conta Larissa, que acompanha as pessoas com diabete e, como paciente, sabe o transtorno que elas enfrentam. 
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que a compra das insulinas de ação rápida (NovoRapid e Humalog) está em processo de licitação. Já a Apidra (também de ação rápida) tem entrega marcada para terça-feira (12). “Em relação às fitas para controle glicêmico, houve problema no processo licitatório. Um novo já foi aberto.” Questionada sobre o universo de pessoas com diabete no Estado que dependem do governo para o tratamento, a SES não forneceu o número.
No Grande Recife, 7,5% da população adulta vivem com diabete, segundo a vice-presidente da Regional Pernambuco da Sociedade Brasileira de Diabetes, Geísa Macedo. “É um constrangimento saber que não se pode usar um medicamento melhor porque não está disponível no Estado”, lamenta.

FONTE : JC ONLINE

ECONOMIA : CONTAS PESSOAIS - Salário mínimo fica abaixo do valor necessário para sobreviver

Criado em 1938 para assegurar bens e serviços essenciais a uma família, mínimo deveria ser de R$ 3,9 mil, segundo o Dieese. Alta do custo de vida agrava aperto no orçamento

Para suprir as necessidades básicas, o salário mínimo deveria ser de R$ 3.940,24. Esse é o valor apontado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) como o mínimo necessário para trabalhadores garantirem comida, casa, transporte, saúde e educação de uma família de quatro pessoas. Na ponta do lápis, o montante equivale a quatro vezes o mínimo de R$ 880.

Por esses parâmetros, Alcino Nunes Fernandes, de 51 anos, está muito longe de ter o necessário para viver. Para ganhar cerca de R$ 880, ele trabalha como ambulante 12 horas por dia, vendendo capa de volante, raquete para matar mosquito e outras miudezas. Até ser demitido, ele capinava ruas e avenidas da cidade. Alcino precisou recorrer à informalidade para sustentar a família de cinco pessoas. A renda é complementada pelo salário da mulher e da mãe. “Tem que fazer muita conta. Não sobra nada. Não tenho dinheiro nem para comprar roupa. Eu ganhei esta blusa, a calça e o sapato de doação”, conta.

Segundo o Decreto-Lei 399, de 1938, no governo de Getúlio Vargas, o salário mínimo deveria ser o suficiente para prover alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene e transporte ao trabalhador. No cálculo do mínimo necessário, o Dieese segue essa premissa à risca e leva em conta uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças). “A pesquisa ajuda a estimar a insuficiência do salário mínimo real”, comenta o técnico regional do Dieese Lúcio Monteiro.

E essa discrepância tem crescido com o aumento do custo de vida. O mínimo necessário de 3.940,24, calculado em junho, é 4,2% maior em relação a maio, mês no qual esse valor era de R$ 3.777,93. O aumento tem relação com o encarecimento da cesta básica. Em BH, teve aumento de 4,24% no mês passado, em relação ao anterior. Apenas a compra dos 13 itens da alimentação básica – entre eles feijão, leite, óleo e farinha – consumiu R$ 425,82 na capital mineira, o equivalente a 52,6% do salário mínimo líquido, conforme aponta o Dieese. Se considerada uma família de quatro pessoas, dois adultos e duas crianças, o trabalhador belo-horizontino gastou R$ 1.277,46 somente para cobrir a despesa mínima familiar com alimentação em junho.

Dois lados do pouco

A alta da inflação acaba tendo peso ainda maior no orçamento da parcela da população que recebe menos, conforme explica o economista e membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG) Adriano Miglio Porto. “Quem ganha o salário mínimo tende a ter gasto mais intenso vinculado a produtos e serviços essenciais, como transporte, alimentação, água e energia elétrica. Se aumenta o preço do feijão, esse gasto de alimentação tira a possibilidade de consumo de outros bens”, afirma.

Mas o especialista explica que, embora seja o menor valor que um trabalhador pode receber, o salário mínimo traz grande impacto na economia e funciona como uma espécie de termômetro. “Ele ativa a economia como se fosse adrenalina na veia. Normalmente, os mais pobres consomem mais quando recebem mais dinheiro. Quando começa a segurar o salário mínimo, corre o risco de ocorrer o contrário”, reforça o economista. Para se ter uma ideia, o aumento do mínimo de R$ 788 para R$ 880 em 2016 deve injetar R$ 57 bilhões na economia nacional, segundo o Dieese.

Renda de 26% da população

A remuneração de até um salário mínimo é realidade entre mais de um quarto da população brasileira com mais de 15 anos. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2014, a mais recente pesquisa sobre o mínimo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um total de 42,6 milhões de pessoas (26%) recebem, no máximo, o que o governo aponta como a menor renda mensal para suprir as necessidades básicas do trabalhador. Em Minas Gerais, esse percentual é maior, chegando a 28,7% da população acima de 15 anos, um total de 4,7 milhões de pessoas.

Em termos percentuais, as mulheres são quem mais recebem o mínimo. Quase um terço das brasileiras (31,1%) são remuneradas com até um salário mínimo, enquanto o percentual entre os homens é de 21,9%. Minas segue esse mesmo retrato, sendo que 33,9% das trabalhadoras ganham até R$ 880 e 23,1% das mulheres recebem até esse montante. Na capital mineira, a discrepância entre os sexos é maior. Em BH, 24,5% das mulheres ganham, no máximo, o salário mínimo, o dobro da quantidade dos homens (12,5%). 

FONTE : DIÁRIO DE PERNAMBUCO

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