Flanelinhas dominam as vagas de estacionamento do sistema no Recife, aplicando ágio que vai de 66% a 233%Flanelinhas cobram de R$ 5 a R$ 10 por uma folha de Zona Azul. Foto : Julio Jacobina/DP
No lugar da flanela, um talão da Zona Azul. Os guardadores de carro, ou melhor, de vagas de estacionamento do Bairro do Recife, mudaram a função original do que um dia foi a atuação do “flanelinha” (trabalhador informal que presta pequenos serviços aos motoristas que estacionam nas ruas), e se transformaram numa espécie de “cambistas” das vagas. Em um território livre para atuar sem medo de fiscalização, eles forçam o motorista a pagar um ágio pela vaga. Não basta dispor do talão para colocar o seu próprio bilhete, cujo valor passou de R$ 1 para R$ 3, para vagas de 1h, 2h ou 5h. É preciso adquirir o que é oferecido pelo flanelinha, se não quiser ficar sem a vaga. E, nesse caso, os valores dependem da cara do cliente. O que era para ser R$ 3, pode ser R$ 5 (66% a mais) ou até R$ 10 (233% a mais), como flagrou a reportagem do Diario.
No lugar da flanela, um talão da Zona Azul. Os guardadores de carro, ou melhor, de vagas de estacionamento do Bairro do Recife, mudaram a função original do que um dia foi a atuação do “flanelinha” (trabalhador informal que presta pequenos serviços aos motoristas que estacionam nas ruas), e se transformaram numa espécie de “cambistas” das vagas. Em um território livre para atuar sem medo de fiscalização, eles forçam o motorista a pagar um ágio pela vaga. Não basta dispor do talão para colocar o seu próprio bilhete, cujo valor passou de R$ 1 para R$ 3, para vagas de 1h, 2h ou 5h. É preciso adquirir o que é oferecido pelo flanelinha, se não quiser ficar sem a vaga. E, nesse caso, os valores dependem da cara do cliente. O que era para ser R$ 3, pode ser R$ 5 (66% a mais) ou até R$ 10 (233% a mais), como flagrou a reportagem do Diario.
Os abusos frequentes já protagonizaram as cenas mais bizarras. Em uma delas, na Rua Madre de Deus, uma senhora que não quis se identificar, guarda as “suas” vagas com resto de cadeira e até bolsa escolar para evitar que o motorista ache a vaga sozinho e pague com folha do seu próprio talão. Foi lá que encontramos o turista do Rio Grande do Norte Fabiano Dantas, 37 anos, que pagou R$ 10 por 5h. “Ela disse que de meio-dia eu tenho que vir para trocar a folha e pagar mais R$ 3”, contou o professor.
Questionada pelo Diario, a senhora, que não quis se identificar, disse que cobra R$ 5, como todo mundo, e no caso do turista, cobrou R$ 10 já prevendo a segunda troca do bilhete. Irritada com a reportagem, ela chegou a pegar uma pedra para agredir o fotógrafo do Diario, Marlon Diego, mas foi contida por outros flanelinhas do local. Em outro relato, uma mulher que trabalha no bairro e prefere não identificar, também já foi alvo de abusos no mesmo local. “Eu cheguei cedo para trabalhar e a rua estava livre e quando voltei para trocar o bilhete, meu carro estava preso, entre dois carros colados nos dois lados, e a senhora e o companheiro dela disseram que só podia deixar o carro lá se ficasse sem a marcha. Depois de uma discussão, eu resolvi tirar o carro de lá”, contou.
Para quem trabalha no bairro e não quer se indispor com os flanelinhas para não ter o risco de encontrar o carro arranhando, uma das estratégias é tentar ficar “amigo”. Em alguns casos, os flanelinhas-amigos guardam as vagas e eles mesmos trocam os bilhetes para quem prefere deixar a chave. Para esse serviço, o valor custa R$ 30 por semana, suficiente para um talão com 10 folhas de R$ 3. “Ainda acho vantagem porque sei que tem alguém olhando”, revelou a mesma mulher, que já foi vítima na Madre de Deus.
Os flanelinhas são divididos por áreas. Na Praça do Arsenal, o espaço dispõe de três guardadores mais antigos. Um deles, Dimas Félix da Silva, 48 anos, trabalha no local há 17 anos e é um dos cadastrados pelo prefeitura. “Eu cobro R$ 5 para quem é de fora. Os daqui, já conhecidos, eu cobro R$ 4. Também fico com as chaves e troco os bilhetes quando termina o prazo”, explicou. Em 17 anos, ele conseguiu comprar a casa e formar os filhos.
Extorsão
O último levantamento da Prefeitura do Recife apontou 118 flanelinhas para o Bairro do Recife, que comporta 22 ruas, o que dá uma média de cinco flanelinhas por via. No ano passado, a Diretoria de Controle Urbano (Dircon) repassou para a Companhia Independente de Apoio ao Turista (Ciatur), da Polícia Militar, a tarefa de fiscalizar a ação dos flanelinhas no Bairro do Recife. Por meio de nota, a PM informou que aguarda a relação do novo cadastro que está sendo feito pela prefeitura para dar início à fiscalização. De acordo com a Ciatur, serão coibidos casos de extorsão, roubos e furtos que venham ser praticados pelos guardadores. As vítimas que se sentirem lesadas devem fazer a denúncia pelo 190.
Até o decreto nº 3.688/41, a profissão de flanelinha era considerada contravenção penal. Já o decreto nº 79.797/77 regulamentou o exercício das profissões de guardador e lavador autônomo de veículos automotores, a que se refere a Lei nº 6.242, de 23 de setembro de 1975, desde que sejam registrados na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho. No Recife, essa regulamentação não chegou a ser feita. “Ao flanelinha é permitido auxiliar o condutor do veículos a estacionar e zelar pelo carro em troca de uma recompensa financeira, estando proibido ao flanelinha a cobrança de valores e ameaças”, diz a nota.
Já a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informou, por nota, que tem realizado um trabalho contínuo de sinalização viária da cidade. E orienta os condutores a adquirirem os bilhetes das vagas rotativas nos pontos de venda autorizados. Ainda segundo a nota, “o cidadão que se sinta prejudicado de alguma forma, o órgão de segurança estadual deve ser informado, para que possa tomar as medidas necessárias”. A autarquia comunicou, que estuda outras formas de venda dos bilhetes de Zona Azul, que está previsto para acontecer através de um aplicativo de celular. Atualmente, a análise encontra-se em fase inicial, sem prazo determinado para sua implantação.
FONTE : DIÁRIO DE PERNAMBUCO
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